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Do Desenho e do Desenhar

ESE

Quando

30 > 28.05.2019 · 18:00 > 00:00

Onde

Galeria Elevador - ESE

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Exposição no âmbito da UC Desenho I dos alunos do 1º ano de Artes Visuais e Tecnologias Artísticas.


L. do D.
27 - 7 - 1930


A maioria da gente enferma de não saber dizer o que vê e o que pensa. Dizem que não há nada mais difícil do que definir em palavras uma espiral: é preciso, dizem, fazer no ar, com a mão sem literatura, o gesto, ascendemente enrolado em ordem, com que aquela figura abstracta das molas ou de certas escadas se manifesta aos olhos.

Bernardo Soares

 

 

Ao tentar definir Desenho enunciamos uma condição agonística que põe no centro aquele que desenha. Nessa prática subsiste o desejo de dar uma ordem ao caos. Cada desenho é, pois, uma forma de questionamento realizado pela experiência, que não separa razão, intuição, expressão, e que se organiza sobre a folha. Nesta acção o desenhador observa, interpreta, responde, construindo um modo de ver e de o dar a ver. A preocupação do desenhador é a de expandir a capacidade de produzir declarações visuais em que o acto de desenhar seja o encontro da acção do pensamento com a acção construtiva, numa simbiose conceito-forma. Assim, o acto de desenhar, como facto de experiência, funde o espaço interno com o espaço externo, a matéria e o espaço, inscrevendo o desenho no tempo, criando memória.

A exposição é uma oportunidade de partilha, mas também um momento, simultaneamente, de distanciamento e aproximação, que possibilita a construção de um olhar analítico sobre o realizado, os seus modos formais e a solução a que cada um chegou para resolver os problemas que encontrou. Os desenhos revelam os seus meios para chegar a resultados, para os quais foram encontrados processos e estratégias. Assim, o desenho é matéria-corpo (materiais, suportes, instrumentos), que materializa o pensamento.

Como condição de pensamento, o Desenho é sempre um projecto pessoal. É expressão do corpo inteiro, que opera em territórios de fronteira, atravessando-os, ligando exterior e interior, onde o acto de realizar coincide com o de mostrar. Desenhar é uma operação racional e, simultaneamente, contemplação sensível que traduz, através dos gestos, as ressonâncias do corpo. É, sempre, um acto solitário, de vontade, de conquista, de (auto)conhecimento. É receber e acrescentar, dando continuidade a essa linha que se desenrola no tempo todo, reconstruindo o visível, sempre em territórios precários e com meios elementares: papel, carvão, grafite.

A existência do desenho pressupõe um ver-ser em acção, oposta à passividade do olhar e o seu carácter íntimo cria laços com os objectos, com a vida, com o tempo.

E enquanto se vê, também se desenha.

 

O Professor
António Fernando Silva

 

ESE, 29 de Abril de 2019

Autor

gestorese@gestor.pt

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